Lady Isis Bueno e seu Lord Alaor no Ushuaia
Texto produzido por: Isis Bueno
Rumo ao Fim do Mundo: Nossa Incrível Jornada ao Ushuaia
A viagem ao Ushuaia sempre pareceu um sonho difícil de realizar, dada as dificuldades frequentemente relatadas por quem já se aventurou até lá. Mas sabíamos que não poderíamos deixar essa experiência única escapar.
Quem nos conhece sabe que não somos exatamente especialistas em planejamento e dificilmente fazemos roteiros detalhados. Sempre nos jogamos na estrada com coragem e disposição. No entanto, uma viagem com os desafios e perigos desse percurso exigia mais preparação.
Saímos de Vila Velha, Espírito Santo, pilotando duas Harley-Davidson Heritage, e buscamos a orientação de quem tem experiência no trajeto: João Carlos Simões e Sandra Beccaro. João prontamente nos ajudou a traçar o roteiro, enquanto Sandra, Maristela e Lord Nasser nos deram dicas valiosas sobre pilotagem em condições extremas, o perigo dos guanacos e os lugares imperdíveis ao longo do caminho.
A Travessia Pela Argentina
Entramos na Argentina por Puerto Iguazú e, no primeiro dia, percorremos 644 km até Resistência, sob um sol implacável de 42°C — uma jornada dura, mas recompensada pelas boas estradas. No dia seguinte, foram mais 682 km até San Lorenzo, um trecho tranquilo.
Já no terceiro dia, rumo a Santa Rosa, enfrentamos muito trânsito de caminhões e estradas bastante danificadas, tornando os 485 km percorridos cansativos e perigosos. Mas o trecho seguinte, de 542 km até Sierra Grande, compensou com suas paisagens belíssimas.
De lá, rodamos apenas 140 km até Puerto Madryn, onde planejamos uma parada estratégica para conhecer os elefantes-marinhos de Punta Loma e os pinguins em Punta Tombo. Passeios imperdíveis para quem está na Rota 3!
Foi também uma parada providencial, pois, na nossa chegada, um “rio atmosférico” elevou a temperatura para incríveis 45°C, com ventos de mais de 100 km/h. Imagine pilotar nessas condições! No dia seguinte, retomamos a viagem com uma mudança brusca de temperatura: 18°C — um alívio absoluto!
De Puerto Madryn a Comodoro Rivadavia, enfrentamos 439 km de deserto, começando a sentir os ventos laterais. Nesse trecho, rodamos por cerca de 300 km sem postos de gasolina. Mantendo velocidades entre 140 e 160 km/h, percebemos um aumento significativo no consumo de combustível e quase não conseguimos chegar ao posto de Garayalde. Depois desse susto, passamos a rodar a 100-120 km/h para evitar esse risco.
Nesse trecho, os guanacos começaram a surgir com mais frequência, e também tivemos que parar para a passagem de um enorme bando de choiques — uma espécie de pequena ema, símbolo da Patagônia.
Em Puerto San Julián, na província de Santa Cruz, visitamos a réplica perfeita da nau Victoria, de Fernão de Magalhães. Depois, seguimos para Rio Gallegos (360 km), já sentindo o vento aumentar. A pilotagem começou a ficar mais difícil e desgastante.
O Desafio dos Ventos e a Chegada ao Fim do Mundo
Nossa intenção era seguir para o Estreito de Magalhães no dia seguinte, mas os ventos estavam tão extremos que o porto das balsas foi fechado. Decidimos, então, subir para El Calafate (302 km), onde fizemos um passeio de barco pelas geleiras, incluindo a incrível Perito Moreno — simplesmente imperdível!
Após esse desvio inesperado, voltamos para Rio Gallegos e finalmente seguimos rumo ao Estreito de Magalhães. Foram mais de duas horas de espera nas aduanas para entrar no Chile. Depois de alguns trechos de rípio e mais uma balsa, finalmente chegamos a Rio Grande, na Argentina, já ao anoitecer.
A travessia desse trecho foi tensa, com ventos fortíssimos e rajadas inesperadas. Mas usamos o aplicativo Wind para monitorar as previsões e atravessar os trechos nos horários de menor intensidade do vento.
Nosso destino nesse dia era o Motorcycle Hostel Fin del Mundo, um lugar simples, mas totalmente voltado para motociclistas. Ali, trocamos o óleo de uma das motos, descansamos e encontramos aventureiros do mundo todo. Parecia uma verdadeira Torre de Babel, onde o motociclismo era a língua universal. E, claro, deixamos nossa bandeira lá, junto às lembranças de outros moto clubes e motociclistas internacionais!
Na manhã seguinte, a ansiedade tomou conta. Faltavam apenas 232 km para Ushuaia! Passamos pelo Paso Garibaldi envolto em nuvens, o que impediu a vista das famosas lagoas e paisagens que tanto queríamos ver.
Quando finalmente chegamos ao portal de Ushuaia, a emoção foi indescritível! O lugar estava cheio de motociclistas disputando espaço para fotos, mas, no meio da confusão, um inglês abriu espaço para que conseguíssemos registrar o momento.
Isis, a louca, pulava e gritava, enquanto Bueno só ria. Que dupla somos!
Para celebrar, preparamos um jantar brasileiro na nossa hospedagem: arroz, feijão, salada, bife e ovos — um alívio depois de tanto tempo comendo papas e milanesas!
No dia seguinte, descansamos e passeamos pela cidade. No terceiro dia, pegamos as motos e seguimos para Lapataia, o verdadeiro fim da Ruta 3. Infelizmente, a pista estava molhada e escorregadia, com muita lama e os guardas não permitiam que as motos chegassem até a placa de Lapataia.
O Retorno e as Lições da Estrada
Iniciamos a volta passando novamente pelo Paso Garibaldi, dessa vez com uma vista deslumbrante. A viagem de regresso foi mais rápida, mas também mais difícil: ventos violentos, guanacos atravessando a pista e muita adrenalina.
Rodamos mais de 12.000 km, sendo mais de 9.000 km só dentro da Argentina, e ainda tínhamos cerca de 2.000 km até em casa. Mas faríamos tudo novamente — e, para falar a verdade, já estamos planejando a próxima aventura!
Dicas para Quem Quer Encarar a Jornada
✔ Roupas separadas por clima: levamos uma mochila com roupas leves e outra para frio extremo. A partir de Rio Gallegos, o frio e o vento foram intensos, e a primeira mochila ficou praticamente inutilizada.
✔ Cuidado com o vento lateral: ao cruzar com caminhões, mantenha distância para evitar o efeito de sucção.
✔ Atenção redobrada na estrada: guanacos e choiques atravessam repentinamente, e há milhares deles ao longo do percurso.
✔ Motoristas ajudam na sinalização: se receber sinal de luz, reduza a velocidade — pode haver perigo à frente.
✔ Cuidado com o rípio: não há acostamento normal, e entrar em alta velocidade no rípio pode ser fatal.
✔ Abasteça sempre que puder: mesmo que precise de apenas 2 litros, não deixe de completar o tanque, pois os postos são escassos.
✔ Aduanas no Chile são demoradas e burocráticas: tente passar cedo e tenha toda a documentação em mãos.
✔ Cuidado na reentrada na Argentina após a aduana: a pista está em más condições, com buracos e trechos de rípio.
✔ Retas infinitas podem dar sono: viaje descansado e planeje suas paradas, pois há poucos locais seguros ao longo do caminho.
Esta foi, sem dúvida, uma das maiores e mais inesquecíveis aventuras de nossas vidas! 🚀🏍️