Ladies of the Road na Route 66

O que esperar quando as Ladies of the Road se unem para celebrar a amizade e fazer o que mais gostam? Muita animação, companheirismo e diversão, com certeza, não faltarão.

Mas e quando o local para esta comemoração é a clássica e mais famosa “Route 66”, desejada por praticamente todas as gerações dos apaixonados pelo motociclismo?

A idéia surgiu em 2020, logo após as Ladies comemorarem uma década de existência, e a viagem, inicialmente programada para setembro de 2021, teve início assim que as restrições da pandemia afrouxaram. E assim, 12 Ladies of the Road, vindas de São Paulo, Santo André, Espírito Santo, Salvador e Recife, desembarcaram em São Franscisco no último dia 30 de abril.

Muitas apenas se conheciam  “on line”, nas reuniões de alinhamento da viagem. Mas como todos sabem, você só conhece realmente alguém depois de uma viagem.

Mas o primeiro encontro, já em São Francisco, já serviu para mostrar o que as Ladies of the Road, com um sonho em comum, podem conquistar: companheirismo, superação e diversão. É isto que vamos contar aqui.

Após o check list das motos – Heritage, Road King, Street Glide e Ultra – , e briefing do trajeto, iniciamos o primeiro trecho da Viagem de São Francisco à Los Angeles, que explorou o litoral da California.

Conhecida como Big Sur, a região costeira ao longo da “Pacific Coast Highway One” (a famosa “California Highway One”) se inicia entre o rio Carmel (a norte) e o riacho San Carpoforo (a sul), e premia seus visitantes com paisagens incriveis em direção às colinas de Santa Lucia. Roteiro imperdível para os apaixonados por praias, e lindas estradas como as Ladies.

Partimos de São Francisco às 11h, passamos pela cidade de São José, paramos em “Pigeon Point” para apreciarmos a vista, e chegamos na cidade de Monterrey às 16h, onde almoçamos na “Old Town”.

Mas foi à noite, após o “check in” no hotel, que vivenciamos uma experiência que marcaria toda a viagem. Como todas estavam muito agitadas no primeiro dia, resolvemos explorar um típico bar local indicado pela recepção do hotel, o “Sportsman’s Club”, com direito a pebolim, jogo de dardos, e uma jukebox. Lá, fomos extremamente bem recebidas pela proprietária Michelle Kaan que, encantada com o fato de existirem mulheres motociclistas como as Ladies, repetiu por várias vezes a frase “Women do!” (as mulheres podem, as mulheres fazem), o que acabou se tornou o hino da viagem.

No segundo dia de estrada, após alguns quilómetros, já era possível sentir a empolgação de todas diante das paisagens do litoral californiano que reamente enchem os olhos e alimentam a alma. Isto sem falar da Highway One que é um tapete, e muito agradável de percorrer. Paramos no Carmel Highlands General Store para um café, exploramos o Pfeiffer Burns State Park, almoçamos  no Gorda Springs Resort, e seguimos para Pismo Beach.

Em Pismo Beach, cidadezinha na costa central da Califórnia conhecida por suas vinícolas e por muitas praias, tivemos outra agradável surpresa: um pôr-do-sol incrível, com direito à reggae ao vivo no píer da cidade.

O roteiro do terceiro dia de estrada prometia! Afinal, passaríamos por Santa Bárbara, Santa Mônica e Los Angeles.

Percorrermos 82 milhas (o equivalente a 131 quilómetros) na estrada tranquila que nos leva a Santa Barbara. Situada entre as Santa Ynez Mountains (cordilheira de Santa Ynez) e o oceano Pacífico, na costa central da Califórnia, Santa Bárbara oferece vista panorâmica do oceano combinada com a arquitetura e o estilo espanhol a menos de 150 quilômetros ao norte de Los Angeles. O que impressiona, logo de cara, são os telhados vermelhos colorindo a paisagem de colinas verdes que se vão diminuindo de altura até chegarem às praias e ao movimentado Stearns Wharf (Cais de Stearns), que liga o mar à terra e abriga restaurantes de frutos do mar frescos, local onde paramos para um rápido almoço antes de seguirmos viagem.

Após quase duas horas de estrada, chegamos ao badalado píer de Santa Mônica, que desde 1909 recebe turistas do mundo todo e é famoso por ser o local de término da Rota 66 para quem vem de Chicago. Como fizemos o sentido inverso, para nós era o início da Rota, que foi comemorado em grande estilo, com uma foto das Ladies na Placa “Route 66: End of the Trails”.

A chegada em Los Angeles se deu com o trânsito intenso já esperado, e muita comemoração na chegada do hotel – o que se tornou um hábito e um dos pontos altos ao longo da viagem –, antes de explorarmos o Rainbow. Apesar do nome falar em arco-íris, no interior deste extravagante bar o que reina é a luz vermelha, e os objetos inusitados e instrumentos musicais em todas as paredes e teto, que deram um toque especial à festa dos vampiros, um exótico Dj que tocou o hino do Brasil para as Ladies.

Depois de dois dias de compras, ida obrigatória à Bartel HD, calçada da fama em Hollywood, Rodeo Drive St. em Beverly Hill, e uma noite divertida no novo Point Biker da cidade, o “Bike Sheed Co”, já sentíamos falta da estrada.

Agora, depois de superada a primeira etapa do roteiro (de São Francisco a Los Angeles), ingressaríamos na segunda etapa do roteiro (de Los Angeles a Vegas), onde realmente encararíamos a Rota 66 com toda sua beleza e seus muitos desafios.

Neste quinto dia de viagem, tivemos a oportunidade de conhecer o primeiro Mc Donald’s do mundo, perto de San Bernardino, e o “Helmer’s Bottle Tree Ranch” (que é é literalmente uma floresta de árvores de garrafas localizada na Rota 66, perto de Oro Grande). Almoçamos em Barstow para reabastecer as energias, antes da imperdível parada em frente ao Roy’s Café de Amboy. É lá onde está pintado no chão da rodovia o símbolo da Rota 66 – sessão de fotos imperdível com as Ladies of the Road. Seguimos por 4 horas em direção ao Estado do Arizona, onde dormimos no vilarejo de Laughtin em Bullhead City.

Já no início do dia seguinte, avistamos alguns ciclones no meio do deserto, o que era um prenúncio do que vivenciaríamos alguns dias depois, em “Monument Valley”.

Mas seguindo o roteiro, no sexto dia de viagem o calor já era intenso, em torno de 40 graus, porque já estávamos atravessando o Deserto de Mohave. Como primeira parada, visitamos a vila de Oatman, que foi um pequeno campo de mineração na época da descoberta de ouro em 1915. Uma curiosidade deste trecho é o cuidado e atenção exigido na estreita estrada da serra de Golden Valley (Vale do Ouro), cheia de curvas entre Oatman e Cool Springs Station, porque centenas de burros viviam à beira da estrada, abandonados após o fim da mineração.

Almoçamos em Seligman, no RoadRunner (último estabelecimento a abrir na histórica Rota 66), e após uma parada na cidade fantasma de Calico, seguimos para o ponto alto do dia: o icônico Bagdad Café, local onde foi gravado o premiado filme alemão que leva o mesmo nome – e levou o Oscar de melhor canção em 1989 e melhor filme estrangeiro em Cannes. Aliás, o filme tem tudo a ver com esta aventura incrível das Ladies, pois trata de superação, amizade e como as diferenças podem ser um elo importante na adversidade.

E falando em superação e adversidade, depois de uma noite agradável na cidade de Tusayan, o sétimo dia foi o mais emocionante e difícil desta aventura.

Após percorrer as maravilhosas estradas que beiram o Grand Canyon National Park pela manhã, e de curtirem no início da tarde o visual incrível do HorseShoe Bend – um local com vista do Rio Colorado, em forma de ferradura –,o vento lateral do Arizona se intensificou e mostrou toda sua força.

Durante mais de cem milhas, as Ladies enfrentaram uma tempestade de areia até o Monte Forest Gump, na Reserva de Navarro, com o majestoso “Monument Valley” como pano de fundo. Com uma mistura de medo, alegria, tensão e felicidade, as Ladies tiveram de lidar com muita poeira, dificuldade de respirar, baixa visibilidade (no máximo, um metro de distância), o que exigiu concentração e força para manter as motos na formação do bonde, sem sair da estrada. Sem dúvida, o ponto alto e mais comemorado de toda a viagem.

Após a pernoite em Kayenta, saindo do Arizona rumo ao Estado de Utah, desfrutamos do lindo trajeto até o Parque Nacional de Bryce Canyon que, apesar do nome, não é um cânion, mas uma coleção de rochas chamadas “hoodoos”, cujas cores vermelha, laranja e branca proporcionam vistas espetaculares. O grupo mais unido, e feliz com os momentos incríveis compartilhados nos últimos dois dias, foi então celebrar, assistindo ao típico show country americano dos Wrangler’s Concert no Ebenezer’s Bar & Grill.

Já no último de dia estrada, como Bryce Canyon estava a 2900 metros de altura, as Ladies ainda enfrentaram baixas temperaturas, sensação em torno de dez graus negativos, na serra entre Bryce Canyon e Iron County, onde seguiram pela rodovia I-15 até o término da viagem na Harley Davidson em Vegas.

Qual o balanço desta viagem para as Ladies? Depois de uma experiência inesquecível e única como esta, com certeza, os laços entre todas ficam mais atados.

E você, curtiu a aventura das Ladies of the Road? Teria coragem de encarar a Route 66, com fortes ventos e tempestade de areia?